segunda-feira, 8 de maio de 2017

Minha mãe quase leitora


Confesso que demorei para descobrir quem iria entrevistar, porém não poderia deixar de fazer este trabalho com a pessoa que me inspira, a minha melhor amiga, uma parte de mim... Para o mundo: Sandra Maria, para mim: minha mainha véia!

Claro que eu não ia deixar passar essa oportunidade de vê-la toda serelepe, contando sobre sua vida e se vangloriando de ter se tornado uma mulher bonita, com aspecto jovem e inteligente, com filhos saudáveis e educados (como boa leonina que é!).

Sandra Maria Aguiar de Almeida, 47 anos, formou-se em Publicidade em 2010, sempre muito comunicativa e criativa, teve a sorte de ter bons amigos que sempre a levava a bons lugares onde enriqueceu as ideias de mundo, principalmente.

Primogênita de 3 filhas, sofreu a realidade da depressão pós parto. Então, a princípio, não era querida por quem a gerou, além  da carga de ter a responsabilidade materna das irmãs mais novas.

Seus primeiros contatos com a leitura se deram com a bíblia sagrada, pois vinda de uma família materna extremamente evangélica, ela não poderia ter contato com nada “do mundo”.

“Eu lembro que toda dia perto das 18h, seu avô chegava com o café pra sua avó fazer e enquanto isso ela me colocava para ler a bíblia, até a janta ficar pronta... aí ficava todo mundo me ouvindo até que ela começasse a oração antes de comermos”.

Seus contatos com a leitura sempre foram muito restritos e, como citei anteriormente, por ser vítima da depressão pós-parto da minha vó, foi obrigada a ir morar na escola de freiras, onde teve uma educação muito rígida e a visão de mundo se dava através dos ensinamentos fechados que as próprias freiras davam.

“Meu primeiro contato de verdade, com um livro que eu queria ler mesmo, foi com uns 16 anos já, quando eu ia passar o final de semana na casa de sua madrinha. Lá ela tinha uma estante cheia, ai eu comecei a ler a partir daí”.

Mainha confessa que, de fato, não se considera uma leitora assídua. Culpa o tempo, os afazeres domésticos e vários outros motivos que a gente costuma dar para não fazer o que não quer. Mas a sorte dela é que, se alguém indicar algo para ler, ela com certeza ganha um ânimo para que possa ler.

“Uma época dessas, minhas amigas todas lendo um livro que o nome é 50 tons de cinza. Me disseram que era picante... eu nem queria ler, mas eu não ia ficar sem assunto com elas né? Ai eu li! Mas eu achei muita modernidade pra mim viu? Soube que tem continuação, mas é melhor deixar quieto (risos)”.

Fazendo uma análise sobre a minha vida de leitor e a da minha mãe, eu vejo que o desinteresse se dá pela falta de estímulo lá no início e até mesmo a não abertura para o mundo que a leitura proporciona.

Como sempre a escola nos formando bons cavalos com viseiras para que não possamos enxergar algo além.


Depois Daquela Viagem



O motivo da escolha dessa obra é que esse livro foi um marco na minha adolescência. Eu o li com 14 anos de idade e, naquela época, ele já tinha causado bastantes sentimentos em mim, mesmo não tendo total entendimento dos temas sociais que ele aborda e que hoje são amplamente discutidos.
Depois Daquela Viagem é um livro que se passa entre os anos 80 e 90, narrado em 1ª pessoa, contado por sua personagem principal: a autora Valéria Piassa Polizzi.
A história começa com uma viagem de Val com os pais em um cruzeiro, aos seus 16 anos (hoje com 45 anos).  Neste cruzeiro, conhece um homem de 25 anos que, meses mais tarde, viria a se tornar seu namorado. Sim, mesmo com quase 10 anos de diferença de idade, eles engrenam um relacionamento.
Passada a fase de conto de fadas, Valéria se vê num relacionamento abusivo, na qual apanha do rapaz, é diminuída e é tratada como inferior. Apesar disso tudo, a morena acha que é culpada por tudo isso. A série de maus tratos só termina quando a família flagra uma cena de agressão e interfere pelo fim do relacionamento.
Desinformada sobre os perigos das doenças sexualmente transmissíveis, aceitou quando o namorado quis ter relações sexuais sem camisinha, afinal, "ela não era puta" e só com "puta" é que era preciso usar preservativo. Dois anos depois do fim desse namoro, Valéria descobriu que era portadora do vírus da AIDS.
Os primeiros casos de Aids no Brasil surgiram em 1980, porém ninguém sabia ao certo que doença era aquela, mas, desde 1977, chegavam notícias tristes dos Estados Unidos sobre um câncer que estaria atacando o sistema imunológico das pessoas, fazendo com que doenças geralmente fracas, se tornassem letais.
A doença se tornou um prato cheio para a homofobia, pois os preconceituosos se apegaram ao fato da doença ter sido detectada inicialmente na comunidade homossexual como a peça que faltava para que o quebra-cabeça da condenação se completasse: a Aids foi taxada de castigo divino aos gays e seus hábitos sexuais promíscuos.
A rede publica de saúde deve fornecer o aconselhamento, bem como a prevenção da doença. Em caso de resultado positivo, o profissional deverá falar sobre a doença e seu tratamento, o significado e utilidade dos diversos exames que devem ser feitos e os possíveis efeitos que o uso dos medicamentos antirretrovirais em curto e longo prazos podem causar.
Com acesso às informações sobre a doença e às formas de promover sua própria independência e autonomia, o paciente se fortalece para enfrentar as adversidades trazidas pela soropositividade e seu tratamento.
Em 1977, Valéria foi capa da Revista Capricho aos 26 anos.
Clássico teen sobre AIDS “depois daquela viagem” completa 20 anos em 2017. A autora da biografia vive com HIV há 30 anos, tomando coquetel há 20. Levando em consideração que Valéria foi uma das primeiras atingidas pela doença, pois a mesma contraiu na década de 80, a sugestão para quem gostaria de saber mais sobre como é a vida de um portador do vírus da AIDS, eu sugiro acessar o blog da mesma: http://valeriapiassapolizzi.blogspot.com.br/ onde ela usa como diário e divulgação sobre seus trabalhos e aparições na mídia. Para mais informações sobre a doença, o governo disponibiliza o site: http://www.aids.gov.br/.
Valéria é uma vencedora, uma guerreira, e hoje faz campanhas e palestras orientando os jovens a usarem camisinha e discutindo sobre Educação sexual nas escolas. Terminou a faculdade de Jornalismo. Casou. Viajou pelo mundo. É um livro que não aborda apenas a AIDS, mas também o preconceito, a vontade de viver, é sobre a adolescência e sobre sonhos.



“Acredita-se que a AIDS é a doença mais avassaladora da humanidade. Para mim é o preconceito, ele exclui, discrimina e mata, e ninguém está livre dele.